quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Secessão Presidencial: um olhar social

Na pesquisa eleitoral do instituto Datafolha, publicada nesta quarta-feira, tanto José Serra quanto Geraldo Alckmin continuam na frente de Lula na faixa dos eleitores mais ricos. Este elemento, que o jornal Folha de São Paulo não mostrou, mas os gráficos ao lado mostram, indicam que o fator social deve ter forte influência na eleição presidencial deste ano.

Gráficos que falam

Na faixa mais pobre mostrada pelo Datafolha (eleitores com menos de 5 salários mínimos de renda), Lula venceu Serra em sete das nove últimas pesquisas do instituto. Em contraste, na faixa mais rica (mais de 10 mínimos), o quadro se inverte: Serra vence em sete das nove, sempre no primeiro turno.

Na pesquisa de ontem (veja o terceiro gráfico do lado direito), é notável nesta faixa mais abastada a perda de eleitores de Serra (ele cai 14 pontos) e a recuperação de Lula (que sobe 15 pontos). Ainda assim, o prefeito tucano mantém a dianteira, no limite da margem de erro da sondagem, de 2 pontos para mais ou para menos.

Chuchu com caviar

O fenômeno é ainda mais notável no cenário onde o candidato presidencial tucano é o governador Geraldo Alckmin. Notável porque, ao contrário de Serra, em toda a série de nove sondagens nunca superou ou mesmo se aproximou de Lula.

No entanto, a partir de outubro do ano passado, mesmo Alckmin vai marcando uma consistente e crescente dianteira sobre Lula na faixa mais rica. Na pesquisa de ontem ele também recua nessa parcela, mas menos que Serra: 9 pontos contra 14, mantendo uma dianteira sobre Lula levemente mais folgada que a do seu rival tucano: 6 pontos em vez de 4.

Pesquisa eleitoral não mostra classe social

As pesquisas disponíveis, lamentavelmente, não segmentam a preferência eleitoral conforme a classe social do eleitor. Todas seguem os critérios quantitativos da sociologia americana, que borra as fronteiras de classe.

Mesmo dentro dessa lógica quantitativa, a maioria dos institutos não desdobra as faixas acima dos 10 salários mínimos, alegando que elas são eleitoralmente pouco expressivas. Há nisso apenas uma parcela da verdade. Porque um ferramenteiro da Ford ou da Volkswagen, mesmo sendo um legítimo operário do chão da fábrica, ganha mais de 10 mínimos e portanto aparece na faixa do eleitorado mais rico.

A exceção é o instituto Ipsos, que trabalha para a CNT, e costuma registrar uma faixa superior, com renda acima de 20 mínimos. Porém como esse segmento é pouco numeroso, os entrevistados são poucos e o resultado fica sujeito a fortes distorções.

Por uma pesquisa sobre o voto muito rico

Algum dia, quem sabe ainda nesta campanha eleitoral, alguém há de fazer uma pesquisa consistente, com critérios qualitativos, sobre a intenção dos votos dos verdadeiramente muito ricos deste país. Não porque os seus votos tenham tanto peso na urna, pois de fato não têm. Mas porque eles votam, sobretudo, com o bolso, financiando candidatos e partidos, ou influindo sobre a mídia com o irrecusável argumento das contas publicitárias.

Esse texto é um resumo, leia na íntegra aqui.

Clique aqui para ver os relatórios do Datafolha.

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